domingo, 28 de fevereiro de 2010

O objectivo de taxa de inflação do BCE

Num paper, Olivier Blanchard, Giovanni Dell’Ariccia, and Paolo Mauro  colocam a seguinte questão:

"To be concrete, are the net costs of inflation much higher at, say, 4 percent than at 2 percent, the current target range? Is it more difficult to anchor expectations at 4 percent than at 2 percent?"
considerando os autores que, embora esse aumento pudesse aumentar os efeitos distorcivos associados à inflação, estes poderiam ser compensados pelo aumento do espaço de manobra da política monetária que resulta de não ser possível (ou pelo menos dificil) fixar taxas de juro negativas.

Pessoalmente, penso que a questão do espaço de manobra da política monetária não me parece por si só um argumento particularmente convincente. Efectivamente, como a actual crise demonstrou os bancos centrais tem outros instrumentos para aumentar a liquidez no sistema financeiro nomeadamente através de políticas monetárias quantitativas.

Por outro lado, aumentar o objectivo de inflação em 2 pontos percentuais pode ter o efeito perigoso de criar um precedente que reduza a credibilidade do novo objectivo, na medida em que os agentes tenderão a pensar que se o objectivo aumentou uma vez poderá aumentar (ainda mais) outras vezes. Recorde-se, além disso, que a fixação do valor em 2% foi fixado tendo em conta a possibilidade de enviesamento da taxa de inflação (resultante da forma como o índice é calculado) e criar uma margem que contivesse os riscos de deflação.

Mas, existe um outro argumento que, este sim, me parece bastante importante.

Num contexto de rigidez de preços, a fixação de um objectivo de inflação superior pode facilitar o ajustamento dos preços relativos, nomeadamente, dos salários entre os vários países.

O que poderia ser particularmente importante no caso da zona euro na medida em permitiria um ajustamento mais rápido dos custos unitários de produção sem a necessidade de uma (tão grande ?) descida dos salários nominais. Com efeito, existindo relutância em reduzir os salários nominais, o custo tenderá a ser um aumento (superior) do desemprego, o que significa que, nomedamente no contexto da actual zona euro, talvez exista, mesmo no longo prazo, uma relação inversa entre taxa de desemprego e inflação (pelo menos para níveis de inflação moderados).

Claro que além do problema de credibilidade que acima referi, existe o problema de uma compreensível relutância da Alemanha para quem a inflação e defesa de uma moeda forte são  compreensivelmente preocupações importantes. Talvez fosse no entanto possível fazer uma pequena alteração, mas que poderia ter um impacto significativo, no objectivo de política monetária do BCE que actualmente é "a manutenção, a médio prazo, da taxa de inflação num nível inferior mas próximo de 2%". Este objectivo poderia passar a ser simplesmente "a manutenção, a médio prazo, da taxa de inflação próximo de 2%", o que permitiria ao BCE uma maior margem para deixar a taxa de inflação aumentar quando essa subida contribuisse para a correcção de desequilíbrios entre países da zona euro, sem que me pareça que daí pudesse resultar danos significativos em termos de credibilidade da política monetária do BCE.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Notícias da Grécia nada animadoras

O Wall Street Journal publica que os enviados da União Europeia à Grécia consideram que as medidas planeadas apenas conduzem a uma redução do défice de cerca de 2 pontos percentuais e estão a pressionar no sentido de um pacote adicionla de 4 mil milhões de euros.

E já hoje tinha sido noticiado no Spiegel que os alguns grandes bancos alemães não estavam interessados em adquirir mais títulos do Estado grego, numa altura em que se sucedem os avisos de  downgrade do rating da Grécia e em que segundo o que tem sido noticiado na imprensa económica o Estado grego necessitará de refinanciar cerca de 20 a 25 mil milhões de euros nos próximos 2 meses.

Entretanto foi noticiado que a chanceler alemã Angela Merkel convidou o primeiro-ministro grego para uma visita a Berlim na próxima semana.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Indicador de Sentimento Económico na União Europeia

Segundo os valores hoje divulgados pela Comissão Europeia o indicador de sentimento económico em Fevereiro terá subido subiu 0,2 pontos (para 97,4) no conjunto da União Europeia e descido 0,1 pontos (para 95,9) na Zona Euro.

Por países destacam-se as evoluções positivas verificadas na Polónia (+4,2), Espanha (+1,1), Alemanha e Países Baixos (+0,9) e Reino Unido (+0,1) e as quedas verificadas na França (-1,9) e Itália (-1,7) - países que tinham registado evoluções muito positivas no mês anterior -, sendo ainda de assinalar a queda de 3,7 pontos (para 72,4 pontos o valor mais baixo da União Europeia) registada na Grécia.

Enquanto que por sectores registou-se uma evolução globalmente positiva da confiança no sector dos serviços, enquanto que a confiança dos consumidores e no comércio a retalho registou um ligeiro declínio. Na indústria e na construção os níveis de confiança mantiveram-se quase inalterados.

Em Portugal o indicador de sentimento económico caiu 1,6 pontos (para 91,0), tendo a confiança descido em todos os sectores com excepção do sector dos serviços (onde subiu 1 ponto). Esta queda foi mais pronunciada nos consumidores (-4 pontos) e na construção (- 3 pontos), sendo de “somente” 1 ponto no comércio a retalho e na indústria.

Entretanto, nas suas previsões intermédias agora divulgadas a Comissão Europeia manteve praticamente inalteradas as previsões feitas no Outono que apontam para um crescimento na União Europeia de 0,7% em 2010, confirmando as perspectivas de uma recuperação, embora frágil, da actividade económica ao longo do presente ano.

Dados económicos nos EUA

Os últimos sinais económicos dos EUA têm sido mistos.

Os dados da indústria têm sido positivos: os valores da produção industrial divulgados na semana anterior apontam para um crescimento anualizado da produção na indústria transformadora nos três meses terminados em Janeiro de cerca de 5,7% e os dados da evolução das encomendas de bens duradouros foram também bastante animadores apontando no mesmo período para um crescimento de dois dígitos (12,7%).

Pelo contrário no sector da construção os sinais dos últimos dois meses foram algo decepcionantes e indicam que as vendas de casas novas terão atingido em Janeiro o valor mais baixo desde, pelo menos, 1963. Enquanto que o índice Case-Shiller registou em Dezembro (-0,24%) pelo 3.º mês consecutivo, importando no entanto ressalvar que se tratam de quedas ligeiras se comparadas com as verificadas em 2008 e na primeira metade de 2009.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A diferença entre sucesso e falhanço

Martin Wolf não é conhecido pelo seu optimismo mas a sua coluna no FT de hoje é particularmente negra: 
"So what happens next? We can identify two alternatives: sucess and failure.
By «success» I mean reignition of the credit engine in high income deficit countries. So private sector spending surges anew, fiscal deficits shrinks and economy appears to be going back to normal, at last. By «faillure» I mean that deleveraging continues, private spending falls to pick up with any real vigour and fiscal deficits remain far bigger, for far longer, than almost anybody now dares to imagine"
Mas se acham o falhanço assutador esperem até conhecerem quais serão segundo Martin Wolf as consequências do "sucesso":
"Unhappily the result of what I call success would probably be a still bigger financial crisis in the future"
Concluindo que:
"Either outcome ultimately leads us to a sovereign debt crisis. This in turn, would surely result in defaults, probably via inflation. In essence, stretched balance sheets threaten mass private sector bankruptcy and a depression, or sovereign bankruptcy and inflation or some combination of the two"
A vantagem de ter alguém conceituado a escrever assim é que posso fazer figura de optimista. Na verdade tenho bastante consideração por Martin Wolf que foi um dos (poucos) que há vários anos têm sistematicamente chamado a atenção para os desequilíbrios da economia internacional e concordo no essencial não apenas com o seu diagnóstico da actual situação como com a posição que sistematicamente vem defendendo de ser necessario um aumento da procura interna nos países superavitários (basicamente, Alemanha e países asiáticos).

O meu optimismo de hoje resulta fundamentalmente do gráfico que ele apresenta com a evolução da capacidade de financiamento do sector privado nos vários países da OCDE que apontam para um aumento substancial da capacidade de financiamento do sector privado nos países da OCDE.
Martin Wolf considera e correctamente que este aumento da capacidade de financiamento do sector privado pode representar uma ameaça de depressão.

Talvez dominado por esse facto, não reparou no facto de que, tal como necessário para o ajustamento que preconiza, esse aumento foi especialmente pronunciado nos precisamente países (nomeadamente Espanha, Irlanda, N. Zelândia, Reino Unido e Grécia com défices externos - a excepções são a Dinamarca e Noruega onde a capacidade de financiamento privado aumentou substancialmente apesar de serem países com superávites externos muito substanciais o que poderá eventualmente estar relacionado com a evolução do preço do petróleo) enquanto que os países da OCDE  onde a poupança privada menos aumento foram aqueles com posições externas favoráveis (Japão, Austria, Suíça, Canadá e Alemanha). O que significa que a evolução é compatível com o facto desse ajustamento inevitável estar já a decorrer.

Curiosamente, Portugal é um dos (poucos) países que destoa, pois apesar de ser um dos países onde o défice externo é reconhecidamente mais elevado encontra-se no grupo dos países onde o aumento da capacidade de financiamento do sector privado foi menos pronunciado.

Um novo site sobre economia portuguesa

Em língua inglesa e com uma lista de contribuidores que vale a pena seguir aqui.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Sobre a entrevista do primeiro-ministro

Da entrevista do primeiro-ministro ressalta a desvalorização da gravidade da situação económica e financeira portuguesa e a insistência na defesa do investimento público "modernizador" como resposta à crise e ao desemprego, invocando Krugman, do qual citou um post de Julho de 2009 intitulado (Deficits saved the world), mas cujos posts mais recentes e bastante pessimistas como por exemplo esta sua coluna de 14 de Fevereiro que na altura tivemos oportunidade de comentar.

Fiquei contudo perplexo por o primeiro-ministro ter afirmado a propósito do aumento do défice que o Estado "investiu em particular em barragens" invocando os investimentos no plano nacional de barragens. É que, como facilmente se pode concluir dos números oficiais apresentados aqui, não só os investimentos previstos no Programa Nacional de Barragens (mais de 2.165 milhões de euros) serão suportados pelas entidades concessiónárias e a concessão de 8 das 10 barragens incluídas nesse Plano permitem ao Estado arrecadar receitas que ascendem a quase 624 milhões de euros, tendo, portanto, um efeito positivo sobre as contas públicas.

Quanto à forma como o Governo pretende controlar o défice público até 2013 não houve novidades, tendo o primeiro-ministro remetido para a apresentação e discussão do Programa de Estabilidade e Crescimento.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Estabilidade e crescimento 10-13

Num dia em que o primeiro-ministro afirmou que o Governo irá "Apresentar e discutir um Programa de Estabilidade e Crescimento que reforce a confiança internacional na nossa economia, e que aposte claramente no crescimento económico, na criação de emprego e no equilíbrio das contas públicas" - a questão crucial é obviamente a de saber como irá compatibilizar estes objectivos - deixo aqui o link para o documento de reflexão da SEDES, ontem divulgado, onde é clara a ideia de prioridade ao equilíbrio das contas públicas considerando que "impõe-se: adiar ou rescindir os contractos relativos a grandes obras públicas, directamente celebrados pelos entes públicos administrativos ou por empresas públicas, ou em regime de parcerias publico-privadas — como o TGV, as auto-estradas, o aeroporto de Alcochete ou a terceira ponte sobre o Tejo; congelar ou reduzir, acima de certos valores, os salários e as prestações sociais a cargo do Estado; suprimir despesas do Estado dispensáveis ou que sejam meros desperdícios" e a critica a uma estratégia de combate ao desemprego "pela via da procura interna assente em grandes obras públicas: porque envolve volumes insustentáveis de financiamento externo; porque pesa, quase todo ele, sobre as importações; porque criará actividades deficitárias que agravarão a situação financeira a prazo (caso do TGV); porque não criará empregos qualificados; e porque agravará mais o desemprego no futuro próximo. Ou seja, os grandes projectos não criam emprego nem produzem efeitos económicos no curto prazo, mas impõem, desde já, endividamentos que só agravam a situação do País".

A nomeação de Constâncio como vice-presidente do BCE

Sou suspeito porque tive a sorte de ser aluno de Vitor Constâncio que me deu a honra de aceitar orientar a minha tese de mestrado, mas do mesmo modo que isso não me impediu de o criticar em Junho do ano passado, também não me impede de me insurgir contra muitas das reacções criticando ou menorizando a sua nomeação como vice-presidente do BCE. Parecendo-me particularmente incompreensível que boa parte dessas reacções surjam nos quadrantes de esquerda dadas as posições keynesianas e pró-crescimento que (como se faz notar aqui) Constâncio tende usualmente a defender.

Independentemente da forma menos hábil com que terá gerido os dossiers BPN e BPP e dos erros políticos que possa ter cometido, nomeadamente quando aceitou em 2005 liderar um grupo de trabalho para avaliar  aquele que seria o défice desse ano, além das suas inegáveis qualidades humanas e intelectuais, Vitor Constâncio é sem dúvida alguma um dos melhores macroeconomistas portugueses, cuja seriedade, pragmatismo e rigor intelectual sempre esteve acima de qualquer suspeita, e tem um currículo que fala por si, características que o tornam mais do que qualificado para exercer com distinção as suas novas tarefas no BCE, cujo Conselho já integrava em representação do Banco de Portugal e onde desde sempre foi bastante considerado.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Desemprego no 4.º trimestre

De acordo com o INE, no 4.º trimestre de 2009 a taxa de desemprego foi de 10,1%, valor que representa um aumento de 2,3 pontos percentuais face ao verificado no último trimestre de 2008. Em termos de média anual a taxa de desemprego em 2009 ter-se-á situado nos 9,5%.


De acordo com os valores agora avançados, no 4.º trimestre de 2009, o número de desempregados ascendia a 563,3 mil (+28,7% do que no trimestre homólogo). Enquanto que o número de empregados se situava nos 5.023 mil, o que significa que num ano perderam-se 152,8 mil postos de trabalho.

De assinalar ainda a redução da população activa (-0,5%) que resultou da queda significativa da taxa de actividade (-0,5 pontos percentuais) que parece estar sobretudo associada à transição da situação de desemprego para inactividade, o que indicia que o aumento da taxa de desemprego subavalia as dificuldades do mercado de trabalho.

Por sectores de actividade, a redução do emprego foi particularmente forte na indústria e construção em que o emprego caiu -7,2% (-108,5 mil postos de trabalho). Enquanto que por regiões ressalta a evolução do desemprego no Algarve (subida de 5,1 pontos percentuais para 11,8%) e na região Norte (subida de 3,2 pontos percentuais para 11,9%).

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

The Making of a Euromess

É o título desta crónica de Krugman que toma o caso de Espanha como referência mas que será igualmente aplicável a outros países e em particular a Portugal. E o minimo que se pode dizer é que o prognóstico não é muito animador. Utilizando as próprias palavras de Krugman:

"What we'll probably see over the next few years is a painful process of muddling through: bailouts accompanied by demands for savage austerity, all against a background of very high unemployment, perpetuated by the grinding inflation (...) It's an ugly picture. But it's important to understand the nature of Euroe's fatal flaw. Yes, some governmemts were irresponsible; but the fundamental problem was hubris, the arrogant belief that Europe could make a single currency work despite strong reasons to believe that it wasn't ready".

Euro: um balanço

O tom, nomeadamente do primeiro artigo, pode parecer demasiado condescendente relativamente aos benefícios do euro, mas numa altura em que se suscitam dúvidas quanto ao futuro do euro, estes artigos constituem uma excelente oportunidade para revisitar a discussão sobre as vantagens e desvantagens da "moeda única".

Do conjunto de artigos sobre o euro, ressalto, por um lado, a ideia de que as análises realizadas muitas vezes ignoram o facto de que a Europa enfrentava uma escolha entre um regime de câmbios fixos irreogáveis e um regime de câmbios fixos semi-permanentes que era inerentemente instável, como a crise de 1992-93 revelou.

E, por outro lado, o balanço da experiência do euro feita por Otmar Issing em que, salientando que 11 anos é um período curto na "vida" de uma moeda, considera a actuação do BCE como um sucesso mas chama a atenção para as tensões sobre o pilar das finanças públicas. Concluindo, quanto a mim apropriadamente, que "Sceptics are not convinced by the successful first eleven years and see the major challenges only coming, not leas due to large internal imbalances. However, for member countries EMU is without any reasonable alternative, in  political as well as in economic terms", e acrescentando, numa nota optimista, que  "Therefore, there are important reasons to expect that this situation will finally enforce needed reforms an fiscal discipline".

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Evolução do PIB na União Europeia

Os dados divulgados pelo Eurostat referentes ao PIB do 4.º trimestre de 2009 apontam para o crecimento para uma taxa de crescimento face ao trimestre anterior de somente 0,1%, abaixo dos 0,3% verificados no trimestre anterior. Entre as maiores economias da zona euro ressalta a estagnação verificada na Alemanha (+0,0%) e a quebra registada em Itália (-0,2%) e na Espanha (-0,1%), enquanto que o Reino Unido registou um crescimento de 0,1% e a França de 0,6%.

Em termos homólogos a queda do PIB no conjunto da União Europeia situou-se em 2,3% destacando-se as fortes quedas verificadas nos países de Leste (Letónia: -17,9%, Lituânia: -13,0%, Estónia: -9,4%, Roménia: -6,6%, Bulgária: -6,2%, Hungria: - 5,3% e Rep. Checa: -4,2%).

Para Portugal os dados apontam para uma estagnação do PIB no 4.º trimestre e para uma variação homóloga de -0,8% que compara muito favoravelmente com a evolução nos restantes países sendo apenas superada pela verificada na França (-0,3%) e na Polónia (país para o qual não forma divulgados dados mas que no trimestre anterior apresentava uma variação homóloga de 1,0%). O que aponta para que no conjunto do ano de 2009 o PIB português tenha registado uma queda de "somente" 2,7% face ao respectivo nível em 2008.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Um dia de recuperação nos mercados

As notícias de que a Europa estará a preparar um plano de apoio às finanças gregas tiveram um impacto positivo nos mercados bolsistas e de dívida pública tendo-se registado uma descida assinalável de 16,8 pontos base nas yields de OT's a 10 anos enquanto os yields dos bunds a 10 anos subiam 6,5 pontos base.

Entretanto, surgiram avisos de que a subida dos spreads da dívida pública está já reflectir-se nos spreads que a banca portuguesa tem de suportar para se financiar no exterior o que terá reflexos inevitáveis no custo do crédito, o que se bem que previsivel constitui uma má notícia para as empresas e as famílias que poderá condicionar a evolução da economia designadamente através dos seus efeitos sobre o investimento e o consumo de bens duradouros.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Ainda sobre a Lei das Finanças Regionais

De acordo com o INE as regiões da Madeira e dos Açores tem populações residentes muito aproximadas (244 mil nos Açores e 246 mil na Madeira). E embora o PIB regional da Madeira seja significativamente superior ao dos Açores (em 2008, 4.848 milhões de euros para a Madeira face a 3.421 milhões de euros para os Açores) a verdade é que se retirarmos o efeito do Centro Internacional de Negócios essa diferença se reduziria consideravelmente, sendo curioso notar que de acordo dados do INE em 2005 o rendimento por agregado familiar era mais elevado nos Açores (e de forma consistente para todos os tipos de agregados familiares).

Neste contexto, interrogo-me quanto à equidade relativa da situação que de acordo com o Público resultaria da continuação da aplicação da lei agora alterada pela AR em que as transferências do Estado para a Madeira atingiriam 405,7 milhões (1.649 euros por residente) e 502,9 milhões para os Açores (2.061 euros por residente). É certo que os Açores sofrem os efeitos de uma maior dispersão por 9 ilhas (embora 54,6% da população da região resida na ilha de São Miguel e quase 22,9% na Terceira) mas deve recordar-se que os efeitos da orografia da ilha da Madeira também não serão despiciendos.

Estes dados não permitem aferir da adequação e proporcionalidade das transferências nem são suficientes para que eu concorde com a alteração aprovada pelo Parlamento. Mas pelo menos ajudaram-me a compreender um pouco melhor um facto que me intrigava: a razão porque todos os partidos da oposição (e não apenas o PSD) votaram favoravelmente a alteração da Lei das Finanças Regionais.

Desemprego na OCDE

Num dia em que a Bolsa de Lisboa evoluiu em linha com os restantes mercados europeus e parece ter regressado alguma tranquilidade aos mercados bolsistas, mas nem por isso aos mercados de dívida onde o yield das OT's a 10 anos registou uma subida de 100 pontos base.

Os valores hoje divulgados pela OCDE relativamente à evolução do desemprego que apontam para uma estabilização da taxa de desemprego no conjunto da OCDE (que se situa em 8,8%). Infelizmente, relativamente a Portugal os dados apontam para uma subida da taxa de desemprego de 0,4 pp no 4.º trimestre (para 10,3%) idêntica à registada no trimestre anterior e, sobretudo, as subidas que terão sido registadas nos meses de Novembro e Dezembro indicam que não existem ainda sinais de estabilização da taxa de desemprego no nosso país.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Uma notoriedade indesejada

Nestes dias Portugal está nas "bocas" do Mundo constituindo, conjuntamente com Grécia e Espanha, tema central da reunião do G-7 e dos editoriais da imprensa económica internacional.

A excessiva e irresponsável dramatização em torno da lei das Finanças Regionais conduziu a noticias com títulos como este: "Portugal passes bill that ups deficit, govt to block" ou frases como esta tirada da CNBC "Fears of another crisis spiral for the world economy deepened Friday after the Portuguese parliament defeated a government austerity plan, triggering renewed concern that the financial crisis in that country and in Greece could spread through the euro zone and spill across its borders", que me fazem recordar esta frase do jugular João Pinto e Castro (escrita em 26 de Novembro): "Como irá tudo isto acabar? Não sabemos, mas uma coisa vos garanto: o que quer que seja não depende em nada de nada daquilo que façamos cá na santa terrinha. Neste particular, cumpre-nos apenas cuidar de não dar demasiado nas vistas. Só um provinciano incurável não entende isto."

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O PIB regional da Madeira

Entre os argumentos que têm vindo a ser utilizados na discussão da Lei das Finanças Regionais avulta a questão da valor do PIB per capita.
Refira-se no entanto que de acordo com valores que tem sido referidos o contributo do Centro Internacional de Negócios (vulgo, zona franca) corresponde a cerca de um quinto do PIB madeirense. E, como é óbvio, não obstante o referido no texto, esta importante parcela corresponde, no essencial, a rendimentos de não residentes neste arquipélago.

Mau momento para um "braço de ferro"

Não foi propriamente um bom momento para criar uma ameaça de crise política. Para quem tiver dúvidas quanto ao impacto da forma como o dossier Lei das Finanças Regionais tem sido conduzido teve no que se passou hoje com a nossa dívida pública recomendo uma breve leitura pela imprensa internacional.

No FT refere-se que "Portugal came under fire in international markets, domestic political tensions rose as parliament began debating a regional finance bill that is strongly contested by the minority Socialist government. The row could result in a political crisis if the opposition parties unite to approve increased funding for the Portuguese island of Madeira, a measure vehemently oppose by the government".

Enquanto outros destacaram as declarações de Jorge Lacão. Assim, na Reuters refere-se que: "Portugal's minority Socialist government lost a key parliamentary committee vote on a bill allowing regional financial transfers which it said would add 100 million euros in debt and make it harder to cut the budget deficit. «Approval brings problems for governability and will have serious political consequences". E o Telegraph conta assim a história: "Parliament minister Jorge Lacão said the political dispute has raised fears that the country is no longer goivernable. «What is at stake is the credibility of the Portuguese state»".

Noutras alturas esta nossa disputa passaria, felizmente, despercebida lá fora, mas na actual situação correspondeu a deitar gasolina para a fogueira. A declaração do Ministro das Finanças constitui um sinal claro de que o Governo não se pretende demitir e nessa medida é positiva como factor de redução da incerteza... mas parte dos danos vai demorar a reparar. É que mesmo que se lhes diga que isto da "crise política" e da "(in)governabilidade" afinal era só a brincar não é certo que acreditem.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A reacção dos mercados

Há algum exagero em considerar o que se está a passar nos mercados como constituindo "uma quinta-feira negra", mas existem motivos suficientes para olhar com preocupação a queda da bolsa de Lisboa e, sobretudo, para a evolução da dívida pública.
Para esta reacção estará certamente a contribuir as declarações feitas ontem pelo comissário Almunia em que afirmou que Espanha e Portugal partilham alguns dos problemas da Grécia, mas também com os riscos de instabilidade suscitados pelo "braço-de-ferro" entre o PS e a oposição relativamente à Lei das Finanças Regionais e as "notícias" que apontam para a possibilidade de demissão do Ministro das Finanças.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

As reacções ao novo estudo do TGV

Sinceramente não é o tipo de estudo cuja metodologia me convença particularmente, além de que se trata apenas de uma versão preliminar e cuja metodologia não tive tempo para analisar com atenção, mas, de qualquer modo, surpreendem-me as afirmações atribuidas ao Ministro Silva Pereira em que justifica a intenção do Governo em construir as linhas de alta velocidade Lisboa-Porto e Porto-Vigo porque "Não podemos confundir as lógicas de curto prazo com as lógicas estruturais. E o país está numa fase em que precisa de fazer escolhas estruturais”, quando uma das conclusões que se destaca do estudo é o relativamente fraco contributo para o crescimento, o forte impacto sobre o endividamento externo e, excepto no caso da linha Lisboa-Madrid um impacto apenas medíocre sobre a "competitividade".