quarta-feira, 6 de novembro de 2013

O excedente externo da Alemanha

De acordo com as previsões ontem divulgadas pela Comissão Europeia, a Alemanha deverá registar, em 2013, um superávite da balança corrente de 7,0% do PIB.

No contexto de uma zona monetária com câmbios flexíveis, os excedentes de alguns páises tendem a ser compensados pelos défices de outros países dentro da mesma zona e é, precisamente, isso que sucedeu na zona euro até 2011. Efetivamente, por exemplo, em 2009 os superávites da Alemanha (6,1%), Países Baixos (3,2%), Áustria (2,7%) e Finlândia (2,0%), entre outros, eram compensados pelos défices da Grécia (-14,4%), Porttugal (-10,8%), Espanha (-4,8%), Irlanda (-2,3%), Itália (-2,0%) e França (-1,8%), entre outros.

Nos anos mais recentes, o processo de ajustamento, tem-se assistido a uma forte correção dos défices externos economias. De acordo com as precisões da Comissão Europeia, em 2013, Portugal (+0,9%), Espanha (1,4%), Irlanda (4,1%) e Itália (+1,0%) deverão mesmo registar superávites externos e no caso da Grécia e França o défice externo dever-se-á reduzir significativamente face aos valores anteriores (para -2,3% e -1,8%, respetivamente).

Não obstante, em 2013, a situação das contas externas dos países superávitários não apenas se mantém em linha com o verificado nos anos anteriores, como, em geral, se verifica um aumento dos superávites da Alemanha (+7,0%) e Países Baixos (+9,6%) - a exceção é a Finlândia que deverá registar um défice externo de -1,2%.

Esta evolução traduz-se num aumento do excedente externo da zona euro, o qual passou de 0,1% em 2009 para 2,7% em 2013. O que significa que a zona euro tem hoje um excesso de poupança face ao investimento e está a contribuir para a contenção do crescimento económico - e da inflação - a nível global.

Embora se trate de uma situação que - como o caso do Japão demonstra - se poderá manter durante um longo período - enquanto os agentes económicos estiverem, em termos líquidos, dispostos a continuar a acumular ativos financeiros sobre o exterior e os principais parceiros económicos globais (v.g., EUA e China) "aceitarem" acomodar o défice de procura da zona euro -, trata-se de uma situação que tenderá a ser corrigida através da: i) dinamização da procura interna da zona euro - nomeadamente dos países com superávites mais elevados e uma posição líquda face ao exterior mais favorável; ii) da apreciação do euro ou iii) uma combinação das duas opções anteriores.

Ora, estas opções não são indiferentes para os países sob ajustamento, nomeadamente para a evolução da situação económica portuguesa. Se a opção de dinamização da procura interna dos países da zona euro tenderá a facilitar o nosso próprio processo de reajustamento, a alternativa de apreciação do euro iria, pelo contrário, dificultar seriamente esse processo ao afetar diretamente a competitividade das nossas empresas nos mercados dos países terceiros e, indiretamente, no próprio seio da zona euro.

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